O INQUIETO LOLO

AURÉLIO ALONSO 20/06/2014 - 17:43:32 Artigos

O advogado Luis Carlos Eloy, o "Lolo", 60 anos, sempre foi um indivíduo inquieto. Na juventude, tinha potencial para as ciências exatas, mas desistiu de seguir carreira na engenharia. Depois foi aprovado em um concurso no Banco do Brasil numa época em que carreira bancária em instituição pública garantia estabilidade e bom salário. Foi lotado na agência de Chavantes. Ao mesmo tempo da rotineira vida de caixa de banco sempre acompanhou os negócios do pai, Benedicto da Silva Eloy, no comando do Jornal da Divisa. No período de democratização já no final da ditadura, "Lolo" se entusiasmou com o sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos envergavam uma barba à la Che Guevara. O Partido dos Trabalhadores (PT) engatinhava como agremiação partidária. Na campanha ao governo do Estado, Lula ainda era um "sisudo" e pouco carismático candidato ao Palácio dos Bandeirantes. "Lolo" decidira, então, fundar a comissão provisória do PT em Ourinhos, cidade governada por expoentes da Aliança Renovadora Nacional (Arena) e na oposição o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). A bipolarização estava acabando. Com simpatia pelo socialismo, "Lolo" entrou em embate com o pai que lutava com dificuldades para manter o Jornal da Divisa. Dessa rebeldia, "Lolo" fundou o "Ourinhos Agora", um semanário em formato menor do que tabloide impresso em gráfica fora do município bem crítico à gestão peemedebista de Esperidião Cury. Não durou muito. Mas foi o órgão que cobriu o famoso escândalo dos paralelepípedos que quase custou o cargo de Cury, um político que se consagraria como zeloso administrador. Nessa época turbulenta da política ourinhense foi instalada Comissão Especial de Inquérito (CEI) na Câmara e posteriormente Comissão Processante. O caso acabou arquivado. Custeado com recursos do próprio "Lolo", o jornal não foi longe, deu prejuízo, faltava publicidade, apesar de muito lido e procurado nas bancas, mas não resta dúvida que havia um boicote velado de comerciantes e políticos contrários. Diante disso, ele decide fundar o PT em Ourinhos. Tinha dificuldades de comunicação, elevada timidez, e então recorreu muitas vezes ao ex-vereador Helio Brisola, de Ipaussu, para discursar nos palanques e “vender” os ideais petistas. Não foi fácil, houve tentativas de não deixar o novo partido deslanchar no município, mas conseguiu fundador o partido petista na cidade. "Lolo" tinha muita simpatia por Lula. Esse "transgressor" dos costumes conservadores ainda “fundaria” a rádio Urubu, uma FM clandestina para questionar a concentração de concessões de rádios a políticos. É o início de um movimento que depois de 10 anos redundaria nas rádios comunitárias. Na época chamava-se rádios livres, movimento vindo da França e pejorativamente acusado de “pirataria”. A emissora transmitida de dentro de um carro clandestinamente marcou Ourinhos na vida nacional nos idos dos anos 90. No manifesto criticava a poluição ambiental das usinas. Para escapar do cerco repressor da época, a FM Urubu teve que suspender as transmissões por causa de denúncias ao Dentel (Departamento de Telecomunicações). Nessa época rádio clandestina podia dar cadeia. Posteriormente, com o falecimento de Benedicto Eloy coube a "Lolo" dirigir o Jornal da Divisa. Deixou o cargo público no Banco do Brasil. Sob seu comando foi construída a nova sede do veículo de comunicação impresso, chegou a adquirir uma minirrotativa e implantou um sistema colorido com ajuda do gráfico Vanderlei Marcante. É também fundador do Diário de Ourinhos que foi dirigido pelo filho, Eloy Junior, falecido prematuramente. Lutou bravamente, no entanto, jornal impresso nos tempos atuais não tem a mesma dinâmica de 40 anos atrás. Deixou a direção do JD, decidiu estudar Direito e enfrentou alguns problemas típicos de sua personalidade diferenciada, oriunda dos anos 60 e 70. Também sempre deu uma força ao trissemanário Tribuna de Ourinhos. Quem tem QI alto, é inquieto, passa dificuldades para enfrentar um mundo sem muita coerência, mas moralista demais. Muitas vezes essas pessoas são incompreendidas. Seus erros são potencializados, porém muitos passam essa vida sem ser notado e escravo de "adulação", porém reconhecidos indevidamente pelos títulos muitas vezes comprados e outorgados em casas legislativas. "Lolo" no domingo acordou cedo, passou mal, muita falta de ar, foi levado às pressas para o hospital. Teve possivelmente um infarto e despediu-se de surpresa, mas deixou um legado de resistência e contestação. É assim a vida de um cidadão inquieto, mas coerente. Aurélio Alonso Editor regional do Jornal da Cidade de Bauru e no início da carreira participou como repórter do "Ourinhos Agora", editado por Luiz Carlos Eloy

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