Morreu professor Norival, o cronista de Ourinhos

AURÉLIO ALONSO 31/05/2015 - 21:24:16 Cidade

Na manhã fria deste domingo, 31 de maio, o professor Norival Vieira da Silva morreu aos 92 anos no Hospital Unimed, onde estava internado desde a última quinta-feira. Não resistiu a uma forte pneumonia. A sua trajetória em Ourinhos ficou marcada pela atuação na “Crônica da Cidade” pela rádio Clube de Ourinhos, por volta do meio-dia. Foi um espaço dedicado à memória do município. Em 10 minutos de programa, de improviso e na base da memória, Silva retratava desde o humilde cidadão ao mais destacado político. O professor de história de maneira singela mantinha viva a história oral, sem compromisso com data e rigor científico.

Filho do ex-prefeito de Santa Cruz do Rio Pardo — Tertuliano Vieira (que administrou entre 1935-1936) —, Norival se destacou no magistério na escola Horácio Soares, numa época em que a escola pública tinha qualidade de ensino reconhecida. Lecionou na faculdade de Direito de Jacarezinho (PR), foi diretor das Faculdades Integradas de Ourinhos (FIO), ajudou a elaborar o processo que possibilitou a instalação da Fatec no município e sempre gostou de escrever em jornais.

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"Ourinhos em crônicas" foi o livro que lançou para imortalizar a história da cidade, afinal seu coração era ourinhense embora nascido em município vizinho, mas sempre esteva atento as grandes causas. Como jornalista, Norival atuou em diversos órgãos de imprensa, como "Voz do Povo", de 1949 a 1954, "Correio de Notícias" (1956), "Diário da Sorocabana", "Jornal da Divisa", "Diário de Ourinhos", entre outros.

Frequentador assíduo das rodas de conversas no antigo Café Paulista na Praça Mello Peixoto e depois no Café do Ponto, próximo a Padaria Pão e Vinho, professor Norival relembrava em suas crônicas diversas pessoas e situações da vida social, conduzia o leitor numa viagem que passa por universos distintos, com destaque para a cultura, para as atividades esportivas, além de dedicar espaço a vários fatos e personagens que fizeram parte da evolução da educação na cidade de Ourinhos. O próprio autor dedicou sua vida ao ensino. Como professor de História e Filosofia, Norival Vieira da Silva atuou das séries iniciais ao ensino superior.

Muito popular, despojado, o professor fez questão de lançar o livro no Bar do Joel, na rua 12 de outubro, 817, na Vila Margarida. O local, indicado pelo próprio autor, foi tema de uma das crônicas do livro.

O professor conheceu de perto a ascensão de políticos, jornais que marcaram a história de Ourinhos e incentivou a criação de jornais nas escolas estaduais.

Norival é do tempo que a imprensa tinha vinculação partidária, jornalistas tinham mordomias de não pagar imposto de renda e até desconto para viajar de avião. Foi professor de José Carlos Maranhão e Jefferson Del Rios, dois jornalistas conhecidos nacionalmente, que tiveram o primeiro contato com imprensa nos jornais estudantis produzidos na escola.

Bom de conversa, o professor quando esteve à frente da FIO tinha um sonho de montar o museu do som: gravar depoimentos com personagens históricos da cidade. A faculdade chegou até a patrocinar um programa na rádio Sentinela, embora não prosperou para tristeza do principal incentivador.

Em Jacarezinho, na Faculdade de Direito do Norte Pioneiro, Norival teve também uma atuação importante. Ele tinha um carinho pelo curso. Ourinhos demorou muito a ter a faculdade na área. A alternativa dos ourinhenses e região era viajar até o município paranaense para obter o bacharelado.

Norival chegou a ser vice-prefeito, teve um bom relacionamento de amizade com Jânio Quadros, governador e presidente da República, embora tivesse livre trânsito com a União Democrática Nacional (UDN).

Tinha a educação no sangue. Na gestão do prefeito Clóvis Chiaradia (PMDB) ele foi procurado pela professora Adelhaid Chiaradia (titular da Secretaria Municipal da Educação) para auxiliar a trazer uma unidade da Fatec (Faculdade de Tecnologia) para o município. Os dois pediram para o professor montar o processo. Nascia a primeira faculdade pública, depois viria a Unesp. "Não me esqueço quando veio a comissão da Fatec visitar o local. O terreno ficava no meio de um pasto. Não havia nada, só se avistava a cidade. Um dos membros comentou: Mas não está muito longe da cidade? O tempo se encarregou de demonstrar que não. A cidade desenvolveu para as imediações da Fatec. A instituição vai muito bem. Não é porque ajudei a montar o processo de instalação da faculdade, mas conheço a escola — lecionei lá por seis meses. É um ambiente extraordinário! Eu me lembro de uma frase, de uma moça de Adamantina: 'Ah, professor! Se essa escola fosse na minha cidade, seria cercada por um jardim'. Quer dizer, ela reconhecia o valor da Fatec em Ourinhos. Depois veio a Unesp. Foi uma luta danada, mas, felizmente, já tem um campus. Os alunos vieram à minha casa, porque tenho um material muito grande relacionado à história de Ourinhos em meu computador", contou o professor em uma entrevista ao jornal Debate.

Com astral para cima, o professor gostava mesmo de conversar no Café do Ponto com os seus amigos, muitos deles advogados, juiz de Direito e seus ex-alunos. Fez isso até quando foi possível, mas nos últimos anos a idade já impossibilitava para as caminhadas.

Deixou as filhas médica Maria Olídia Vieira Gregório e a terapeuta ocupacional Silvana Vieira e três netos: Rafael, Gustavo e Matheus.

Norival foi casado com a professora Dolores Fernandes Alonso, já falecida. O sepultamento do professor será nesta segunda-feira (1 de junho) no Cemitério Municipal. Pelo legado merece uma justa homenagem da Câmara e de Ourinhos.

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