DEDICAÇÃO E ATUALIZAÇÃO TECNOLÓGICA MARCAM OS 83 ANOS DA SANTA CASA DE MARÍLIA
Com seus 231 leitos, mais de 800 funcionários diretamente vinculados e uma soma superior a 613 mil atendimentos prestados, somente em 2011, a Santa Casa de Marília comemora amanhã 83 anos de fundação. Os números e os depoimentos de quem faz parte dessa história mostram que a população pode contar com uma instituição filantrópica dinâmica, que conseguiu profissionalizar a gestão, ampliar resultados e preservar a missão de promover saúde pública. O hospital nasceu com Marília. Em mais de oito décadas, incorporou as principais tecnologias da saúde, foi pioneiro na maioria dos procedimentos na região, ajudou a formar milhares de profissionais e salvou incontáveis vidas. Nasci de novo, resume a dona-de-casa Teresinha Viscardi Gonzales Rodrigues, 56 anos.
Foi no centro cirúrgico da Santa Casa, em dezembro de 1982, que ela ganhou um novo rim. Era a primeira cirurgia de transplante do órgão feito na região. O procedimento salvou a paciente que na época tinha 24 anos e sofria com uma nefrite. Meu irmão fez a doação. Naquele tempo quase ninguém entendia o que era um transplante. Ouvimos muitas bobagens de pessoas sem informação, mas confiamos no hospital e na equipe. Depois de tantos anos na hemodiálise, com os rins praticamente parados, voltei a viver, lembra. Na década de 80 as dificuldades eram muitas, principalmente para quem morava nas pequenas cidades. Não havia garantia de transporte para os pacientes, como ocorre hoje, por meio das secretarias municipais de saúde. Teresinha, que mora em Pacaembu (região de Presidente Prudente), fazia três sessões se hemodiálise por semana. As viagens de ida e volta a Marília eram feitas de trem; seis horas sob os trilhos, além das quatro horas de hemodiálise. Depois da cirurgia, ela se casou, teve filhos e pode levar uma vida normal. As consultas no ambulatório de nefrologia da Santa Casa agora ocorrem ocasionalmente, mas a angústia da doença renal ficou no passado. Ganhei uma segunda família. Os médicos, a equipe de enfermagem, os atendentes viraram meus amigos, afirma Teresinha.
Depoimentos como este aumentam a motivação de profissionais como o médico gastroenterologista Valdeir Fagundes de Queiroz, que atualmente ocupa a diretoria clínica do hospital. Há 45 anos ele entrou na Santa Casa de Marília para atender seu primeiro paciente e nunca mais saiu. Formado pela 2ª turma do curso de medicina da Famema (Faculdade de Medicina de Marília), ele fez, literalmente, residência na Santa Casa (morou em um alojamento na instituição). O médico conta que naquela época a unidade já era um grande hospital, relevante para o interior paulista. Questionado sobre a sensação de curar, minimizar o sofrimento e salvar vidas, Queiroz para, reflete e resume. Cada dia de trabalho é uma emoção diferente. A medicina é feita de técnica, dedicação e conhecimento, mas a vida é mais complexa. O ser humano surpreende demais. Às vezes fazemos um procedimento e nada mais pode ser feito, só depende do próprio paciente. A vida ressurge na frente dos nossos olhos. Isso é emocionante, define Valdeir Queiroz. Com base nessa experiência, o médico deixa a mensagem de fé na vida. A gente nunca pode desistir. É isso que eu diria para quem trabalha com saúde: lutem, não deixem de acreditar. Há muito a ser feito pelo seu paciente, pelo seu hospital, pela saúde desse país.
Corrente do bem
Uma trupe animada, comandada pela voluntária Maria Conceição das Graças Kwiatkoski Vieira, leva quase tudo na brincadeira, mas já aplica a prescrição do médico há mais de seis anos. Ela faz parte da Klínica da Alegria, um grupo de profissionais liberais, funcionários públicos e estudantes que decidiu fazer a diferença. Na Santa Casa de Marília, eles foram acolhidos pela diretoria e principalmente pelos pacientes. A cada 15 dias estamos no hospital. Visitamos todos os setores. Crianças e adultos entram no clima. Por alguns momentos, dá a impressão que os problemas e as angústias ficam de lado, avalia Conceição. As altas doses de risoterapia contam com total apoio da instituição. Começamos na Santa Casa. A equipe médica e de enfermagem reconhece e facilita nosso trabalho. A compressão dos profissionais e o resultado com os pacientes nos motiva a continuar, garante a voluntária. Alguns pacientes, internados por período prolongado, já estão acostumados com os doutores atrapalhados, com seus narizes vermelhos e roupas espalhafatosas. O sucesso é crescente e o número de participantes também. Atualmente a Klínica conta com 45 voluntários, mas esse número deve crescer em breve: 66 pessoas fazem o curso de qualificação para ingressar. A empatia com os pacientes, demonstrada pelos voluntários, também é espontânea entre os funcionários. A enfermeira Marlene de Rossi Oliveira, especializada em nefrologia, se dedica à Santa Casa de Marília há 25 anos. Prestar serviços e receber sua remuneração não bastou. A enfermeira é membro da Amar (Associação Mariliense de Apoio ao Renal Crônico), uma entidade que nasceu no hospital, criada por funcionários e familiares de pacientes. Marlene conta que nunca teve dúvida da escolha profissional, quando começou a trabalhar a convicção se firmou ainda mais. Ela revela que já prestou serviços em outros hospitais (até simultaneamente), mas escolheu a Santa Casa. A instituição dá condições de trabalho e estimula a qualificação dos funcionários. Adoro o que eu faço, especialmente aqui. Posso dizer que sou profissionalmente realizada, afirma.
É possível aliar eficiência com SUS; afirma provedor
Nos últimos anos, a Santa Casa superou crises e ampliou serviços a convênios e particulares, como uma forma de obter receita e equilibrar o déficit do SUS (Sistema Único de Saúde). A estratégia deu resultados, tanto que em 2011 a instituição encerrou o ano com 71% de atendimento pela rede pública. Há cinco anos, a entidade está sob a provedoria do empresário Milton Tédde. Para ele, é preciso acabar com o mito de que eficiência e atendimento público não combinam. Os 54 anos de experiência em negócios ensinaram que o déficit é o maior inimigo de qualquer administrador. Os 30 anos de voluntariado junto ao hospital ensinaram que contas em dia não significam nada, sem o espírito solidário que fundamentaram a criação das santas casas. A alternativa foi conciliar a lógica da administração com a filantropia. Nosso trabalho é focado na qualidade. Temos uma equipe multiprofissional com pessoas altamente qualificadas. Os investimentos são planejados, para dar os resultados que precisamos. É assim que lutamos contra o déficit, combatendo esse inimigo diariamente, afirma o provedor. A Santa Casa de Marília já chegou a somar um passivo descoberto de R$ 14 milhões. Porém, a busca por um modelo de gestão profissional e auto-sustentável nos últimos anos, mudou essa realidade. Marília seguiu uma tendência que salvou várias instituições no país. Em geral, foi necessário incorporar novos profissionais, novas tecnologias, impor controle de gastos, oferecer serviços de qualidade e aumentar a oferta de serviços às operadoras de planos de saúde. Mesmo com a participação da rede privada, o SUS ainda é o grande cliente. A diferença em relação a outros hospitais, onde as filas se formam nas portas, é que na Santa Casa de Marília os atendimentos com consultas, exames e cirurgias eletivas são agendados. Na urgência e emergência o pronto atendimento também funciona 24 horas para o SUS, mas o atendimento é referenciado com encaminhamento através do SAMU ou de outras unidades públicas. Trabalhar com profissionalismo, atender também aos convênios e particulares, não quer dizer que deixamos de ser filantrópicos. Muito pelo contrário. No ano passado, por exemplo, mais de R$ 12 milhões de receita gerada pela Santa Casa foi destinada para subsidiar os serviços SUS, que infelizmente ainda são deficitários, explica Tédde.
Reconhecimento como OSS e investimentos marcam os 83 anos
Uma das principais conquistas da Santa Casa de Marília, comemorada nos 83 anos, é o reconhecimento da instituição como OSS (Organização Social de Saúde). O decreto publicado no final de 2011 pela Secretaria de Estado da Saúde credencia a instituição para participar de concorrências públicas e administrar outras unidades de saúde. Para obter classificação de OSS, o hospital foi submetido a uma rigorosa análise que avaliou o atendimento, a qualidade da gestão e as questões técnicas, além do estatuto da instituição. A superintendente do hospital, Kátia Ferraz Santana, explica que foi necessário criar o Conselho de Administração, integrado por onze diretores, dois funcionários e sete representantes da sociedade. Esse conselho aumenta a representatividade e a transparência da instituição. Na prática, estamos prontos para levar nosso modelo de gestão para outras unidades, esclarece. O governo descobriu que as OSS podem melhorar a qualidade de unidades públicas e reduzir os custos. Na região já temos AMEs (Ambulatório Médico de Especialidades) que são administrados por organizações sociais de saúde, afirma.
Investimentos
Os recursos gerados pela gestão eficiente do hospital se convertem em investimentos. Em 2011 a Santa Casa de Marília entregou a reforma da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) adulto, iniciou estudo para a implantação da UTI Neonatal, entregou a unidade de Oxigenoterapia Hiperbárica e o novo prédio do almoxarifado. Outras conquistas que marcam os 83 anos da Santa Casa são a implantação do Escritório de Qualidade, baseado na política de Controle de Qualidade Hospitalar; adesão a um novo sistema de informática e automação, que está interligando todos os setores do hospital e automatizando alguns processos. O novo sistema permitirá o lançamento de um portal, com vários serviços online para os pacientes e familiares. Nesta segunda-feira, em uma recepção para autoridades e imprensa, serão apresentados os novos equipamentos adquiridos com recursos federais. O projeto para modernização foi defendido em Brasília, pelo e